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Para capelão adventista em Jogos Olímpicos de Londres, os pinos são ferramentas do comércio

Daly serve corpo de imprensa esta semana, os atletas próximos; o autógrafo ocasional

London | Ansel Oliver/ANN

Seis dias por semana durante os Jogos Olímpicos, Richard Daly toma o metrô para o Parque Olímpico no leste de Londres, onde mais de cem mil espectadores enchem nove sedes dos jogos.

Daly, que é pastor adventista, é um dos sessenta capelães voluntários que trabalham no local dos jogos. Durante a primeira semana de competição, recebeu sua designação junto com onze outros capelães que se revezam para atuar no salão de oração do centro de mídia.

Ao andar ao redor do Parque Olímpico, às vezes pessoas o detêm não apenas porque ele se parece com um atleta da competição, mas porque traz uma rica coleção de alfinetes na faixa presa ao seu pescoço com suas credenciais.

"Quantos alfinetes!", comenta um voluntário diante dele na hora do almoço. "É uma coleção impressionante", diz outro. Mais tarde, fora das instalações, uma mulher grita em meio a uma multidão caminhando para um estádio. "Não tem um alfinete da Adidas para compartilhar?", ela lhe pergunta.

Aqui nos Jogos Olímpicos o intercâmbio de alfinetes comemorativos é um passatempo sério e tem sido bem documentado pela mídia local e internacional. Um cinegrafista da rede de TV NBC disse que estava preparando uma reportagem sobre o costume, quando captou a coletânea de Daly ao negociar com alguém vestindo um colete enfeitado com alfinetes destes jogos e outras edições anteriores.

Um alfinete que muitas vezes ele mostra aos participantes dos jogos é um que traz a palavra "Fé",  sendo um bom pretexto para iniciar um diálogo. "Veja este: Você já tem? Você é uma pessoa de fé?", ele pergunta a um guarda de segurança antes de convidá-lo para visitar o salão de orações.

Daly tem 45 anos e é pastor da Igreja Adventista de Croyden, no sul de Londres. Daly está usando suas férias anuais para o trabalho voluntário nos Jogos Olímpicos, acreditando que esta é uma oportunidade para oferecer uma presença pastoral num dos eventos de maior ressonância em todo o mundo.

"Queremos prestar um serviço e estar presentes aqui", disse ele ontem de manhã enquanto caminhava por uma multidão de pessoas que tinham tido a sorte de conseguir ingressos para os eventos.

A partir da entrada do parque de segurança Daly leva quase vinte minutos de caminhada para chegar à sala de oração, localizado em "High Street", um conjunto de cafés, bancos e lojas de serviço. Para os vinte mil jornalistas e fotógrafos que estão aqui estas duas semanas, High Street é o centro comercial local situado entre o International Broadcasting Center e Centro Principal de Imprensa.

Dois dos capelães que trabalham na sala de oração do centro de mídia nos Jogos Olímpicos em Londres. Christopher Jamison (à esquerda), um padre católico, e Alan Boyd, da Igreja Anglicana.

Dois dos capelães que trabalham na sala de oração do centro de mídia nos Jogos Olímpicos em Londres. Christopher Jamison (à esquerda), um padre católico, e Alan Boyd, da Igreja Anglicana.

Um centro religioso entre os jornalistas atrai muito poucas pessoas, mesmo quando localizado numa posição estratégica, perto do ginásio. Na sua maioria os que atuam na são indivíduos de mentalidade secular, Daly disse. Embora a maioria não frequente os serviços religiosos, alguns vêm para escrever pedidos de oração num cartão, e mais tarde os capelães oram juntos por eles.

Na manhã de terça-feira, alguns muçulmanos entravam e saíam, no momento das orações. A sala tem cadeiras dobráveis, sofás, poltronas e duas áreas de oração semi-privadas  por detrás de divisórias brancas. Na parede se acha o logotipo olímpico, com palavras adicionais de inspiração, como "determinação", "valor" e "excelência".

Já que poucos vêm ao local, Daly vai buscá-los. A maioria dos contatos é feita na sala de imprensa onde as pessoas mais descontraidamente falam de sua vida. Esta é a oportunidade para Daly afirmar a sua fé ou oferecer uma palavra de apoio, talvez até mesmo uma introdução ao cristianismo. Não é permitido fazer proselitismo, mas ele pode falar sobre sua fé com eles e convidá-los a buscar uma vida espiritual mais profunda.

Na próxima semana vão trabalhar com os atletas. Se esta tarefa for semelhante  aos jogos anteriores, ele vai esperar que os atletas vão ter com ele ao invés de ir procurá-los, disse David Sciarabba, capelão adventista que trabalhou no Jogos Olímpicos de Inverno em Turim (Itália).

Na Itália, Sciarabba se reunia com os atletas que vinham orar com capelães no centro inter-religioso. Ocasionalmente, alguns atletas pediam-lhe para orar pela vitória, algo que Sciarabba dizia não fazer, explicando ao atleta: "E se o seu adversário vem cinco minutos depois e pede o mesmo?"

Daly disse que as pessoas ficam surpresas ao saber que existem capelães nos jogos. Apesar disso, suas tentativas de provar isso na terça-feira falharam: "Não, eu não me surpreendo com nada", disse uma mulher sentada num banco com três amigas.

Na sala de oração dos Jogos Olímpicos de Londres, os jornalistas podem enviar pedidos de oração para capelães orarem juntos por eles. Há cerca de 20 mil jornalistas e fotógrafos que trabalham em dois centros de comunicação do Parque Olímpico no leste de Londres.

Na sala de oração dos Jogos Olímpicos de Londres, os jornalistas podem enviar pedidos de oração para capelães orarem juntos por eles. Há cerca de 20 mil jornalistas e fotógrafos que trabalham em dois centros de comunicação do Parque Olímpico no leste de Londres.

Um guarda de segurança que controlava a entrada para o estúdio de transmissão da NBC comentou: "Há capelães em toda parte: Nos hospitais, no trabalho, e mesmo no cemitério".

Isso pode dar-se porque a Igreja Anglicana tornou uma prioridade a provisão de capelães em locais de trabalho. É o que explica Christopher Jamison, um padre católico que também serve como capelão da sala de oração.

Esta ênfase em capelães também poderia ajudar mais a que se conheça a denominação. Na Grã-Bretanha, a Igreja Adventista é uma pequena minoria pouco conhecida em muitas regiões. "Os adventistas são desconhecidos aqui", disse Daly.

"Igreja da Sétima Avenida?", disse Kaye Wren, de Birmingham, quando perguntou a Daly qual era a sua filiação religiosa, antes de admitir que nunca tinha ouvido falar do nome.

Na sede da Igreja Adventista, Gary Councell, diretor dos Ministérios de Capelania, declarou que os adventistas "devem repensar a forma de atender e expandir o ministério para além dos paradigmas tradicionais. Quando Jesus estava na Terra misturava-se com todos os tipos de pessoas. O ministério de capelania é uma maneira de se misturar com a comunidade em geral, estender o ministério para além das quatro paredes de uma igreja”.

Para ser aceito para esta tarefa, Daly teve que fazer uma solicitação de dois anos e passar por uma entrevista de meia hora, que ele disse que tinha pouco a ver com seu trabalho como ministro ou com as doutrinas, e sua experiência na tarefa de "inspirar" as pessoas e “causar uma diferença”.

O capelão adventista Richard Daly conversa com Kaye Wren e seu filho Mateus em terça, 31 de julho. Eles vieram de Birmingham (Reino Unido) ao Parque Olímpico na esperança de conseguir ingressos para um dos eventos.

O capelão adventista Richard Daly conversa com Kaye Wren e seu filho Mateus em terça, 31 de julho. Eles vieram de Birmingham (Reino Unido) ao Parque Olímpico na esperança de conseguir ingressos para um dos eventos.

Daly disse que, no Parque Olímpico e nas lojas próximas, muitas vezes é confundido com um atleta. Devido a seu fisico atlético e à sua jaqueta branca da equipe britânica que ele comprou em uma loja de souvenirs  para se proteger da garoa. Assim, sem querer teve que dar autógrafos para alguns e responder aos pedidos de fãs que não querem acreditar que ele não faça parte dos competidores britânicos.

Às vezes usa um colarinho ministerial, embora os ministros adventistas não os utilizem. Disse que ajuda as pessoas por mais facilmente indicar a identificação de um capelão. "Quando você é um capelão, o cuidado espiritual é a prioridade, não a denominação”, esclarece.

No entanto, se alguém lhe pergunta a que igreja ele pertence, ele fala sobre a sua denominação e mostra o seu logotipo, que é um alfinete sobre a sua faixa.

É um alfinete que não pensa em trocar com ninguém.

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