East-Central Africa

Atleta olímpico adventista diz que sua celebração pós-maratona foi testemunho de fé em Deus

Kirui, que antigamente observava os aviões, agora voa na pista da maratona

Silver Spring, Maryland, United States | Elizabeth Lechleitner/ANN

Quando o corredor fundista Abel Kirui, que é adventista do sétimo dia, cruza a linha de chegada, ele cai de joelhos e inclina a cabeça, oferecendo uma oração em comemoração.

O mundo inteiro testemunhou o seu gesto de gratidão nesta semana, quando o queniano de 30 anos ganhou a medalha de prata na maratona masculina dos Jogos Olímpicos de Londres, Inglaterra, no Verão de 2012.

Kirui é também vencedor consecutivo do Campeonato Mundial de Maratona, vencendo o evento em 2011 com a maior margem da história da competição -- dois minutos e 28 segundos. Seu recorde pessoal de uma maratona de duas horas e cinco minutos o coloca em sexto lugar entre uma comunidade de elite de corredores de longa distância.

Num esporte em que os atletas competem frequentemente para ganho pessoal ou reconhecimento nacional, Kirui diz que encontra motivação em trazer glória a Deus.

“Cada corrida é uma oportunidade. O que digo a Deus é, “Onde quer que o Senhor me colocar, vou compartilhá-Lo”. Então, toda vez que eu termino uma corrida, digo, ‘Obrigado, Deus’”, diz Kirui.

Criado na região rural do Quênia no que ele carinhosamente chama de “humilde” casa de mãe solteira, Kirui diz que aprendeu a depender de Deus desde o início da vida. Sua mãe, a quem ele cita como sua maior influência espiritual, o encorajava a ir à igreja nas manhãs de sábado. Hoje, ele diz que o seu hábito de orar cedo pela manhã é uma herança dela.

“Eu me lembro que ela acordava de madrugada para orar sobre quem iríamos escolher para servir na vida”, comenta. “Agora todas as manhãs me levanto muito cedo para orar e pedir a Deus para me dar forças para correr”.

Como um jovem garoto, Kirui diz que sonhava com uma vida além da aldeia local. ”Eu gostava de observar os [aviões] e me lembro de pensar: ‘Vou voar um dia’, mas então via que aquilo me era impossível. Então percebi que o meu passaporte para o mundo estava em corridas”, recorda Kirui.

A partir da esquerda, Abel Kirui, do Quênia, Stephen Kiprotich, de Uganda, e Wilson Kipsang, também do Quênia, posam com suas medalhas da maratona masculina durante a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Verão de 2012. [foto: Associated Press]

A partir da esquerda, Abel Kirui, do Quênia, Stephen Kiprotich, de Uganda, e Wilson Kipsang, também do Quênia, posam com suas medalhas da maratona masculina durante a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Verão de 2012. [foto: Associated Press]

Contudo, sua primeira competição não foi longe de casa. Como estudante do ensino fundamental Kirui alcançou o segundo lugar num campeonato distrital a apenas 10 km de sua aldeia. Mais tarde, já adolescente, ele se lembra de idolatrar quenianos corredores de longa distância, tais como Paul Tergat, uma maratonista que chegou a recordista mundial.

Nos Jogos Olímpicos de Verão de 2.000, em Sydney, Austrália, Kirui assistiu a Haile Gebrselassie da Etiópia avançar à frente de Tergat nos últimos nano-segundos da corrida de 10.000 metros. Outro de seus compatriotas, Erick Wainaina, foi igualmente derrotado na maratona dos homens.

Logo depois, conta Kirui, ele decidiu que havia espaço para outro corredor de longa distância do Quênia e que ele iria usar sua adquirida fama para compartilhar sua fé em Deus.

Correr nem sempre foi fácil, no entanto. Kirui se lembra de desmaiar de desidratação antes da linha de chegada e ter de lidar com contusão. Ele diz que uma corrida em particular destaca-se como um exemplo de má preparação. “Eu rastejava em direção à linha de chegada com os outros corredores todos passando por mim.”

Agora, ele treina até 1.000 km no preparo para uma maratona. Ainda assim, é frequentemente assolado por dor -- especialmente, diz ele, nos últimos cinco quilômetros de uma maratona. “A forma em que você lida com a dor depende do estado de sua mente. A dor não é algo que pode matá-lo, contanto que você seja saudável dentro de seu corpo. É como as coisas espirituais”, diz ele. ”Peço a Deus que me dê o poder de superar”.

O atleta detentor da medalha de prata, Abel Kiuri, à direita, que é adventista do sétimo dia, concorre com corredores de Uganda e do Quênia na maratona masculina, no domingo, 12 de agosto. [foto: Associated Press]

O atleta detentor da medalha de prata, Abel Kiuri, à direita, que é adventista do sétimo dia, concorre com corredores de Uganda e do Quênia na maratona masculina, no domingo, 12 de agosto. [foto: Associated Press]

Até agora, afirma Kirui, sua carreira não tem trazido conflitos com a sua observância do sábado do sétimo dia. Maratonas são na maior parte realizadas aos domingos. “Vou à igreja com minha esposa e dois filhos no sábado, e no domingo de manhã, vou para o treinamento”, diz ele. “E em qualquer lugar que eu compito, levo a minha Bíblia e a minha lição da Escola Sabatina, e sempre encontro tempo para orar no meu quarto”.

Kirui também tem grandes planos para investir em infra-estrutura da Igreja Adventista em sua Quênia nativa. Já ajudou a estabelecer uma nova estrutura de igreja. Planos para uma escola e hospital administrados pela Igreja estão no horizonte, diz ele.

Entrementes, Kirui está se ajustando à fama que advém da obtenção de medalhas em eventos de alto nível, como o Campeonato Mundial de Maratona e os Jogos Olímpicos. “As pessoas em Nairobi dirão, ‘Este é Abel Kirui, o cara que estava correndo!’ A primeira vez que alguém o reconheceu, Kirui diz que ficou chocado. ”Eu não sabia que alguém me conhecia”.

Mas agora, Kirui diz que está feliz que o mundo está assistindo. “Quero que saibam que é o poder de Deus que me mantém correndo. Todo o tempo, o poder de Deus”.

-- com reportagem de Williams Costa Jr.

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