Inter-European

Hospital Adventista alemão inaugura centro para tratar as vítimas de MGF

Waldfriede estabelece parceria com a Fundação Desert Flower da ex-supermodelo Dirie

Berlin, Germany | Corrado Cozzi/ANN staff

Estabelecendo parceria com uma fundação estabelecida por uma ex-supermodelo, um hospital Adventista do Sétimo Dia em Berlim inaugurou um novo centro esta semana para ajudar a restaurar vítimas de Mutilação Genital Feminina (MGF), um ritual cultural em partes da África e Ásia.

O Krankenhaus Waldfriede (Hospital de Berlim) abriu o Centro Desert Flower [flor do deserto] em cooperação com a Fundação Desert Flower, sediada em Viena, Áustria, que foi lançada em 2002 pela modelo somali Waris Dirie.

Dirie, ela própria vítima da mutilação genital feminina aos cinco anos, é uma ativista internacional e estabeleceu as bases para aumentar a conscientização sobre o ritual. Seu livro de 1997, “Desert Flower”, foi transformado em filme em 2009.

Na cerimônia de abertura da quarta-feira 300 participantes assistiram à parte do filme retratando Dirie sendo mutilada. “Quantas meninas são vítimas de tal sofrimento”, Dirie disse na cerimônia. “Mesmo com todas essas lágrimas, estou realmente feliz em sentar-me aqui. Quando vejo esta inscrição ‘Centro Desert Flower’, eu acredito na verdade.

Dirie fugiu de sua casa na Somália quando adolescente, sobrevivendo a uma caminhada de vários dias pelo deserto, sem comida ou água. Ela finalmente conseguiu alcançar Londres, onde trabalhou na rede MacDonalds e aprendeu inglês em aulas noturnas. Ela se tornou uma supermodelo e foi a primeira modelo negra da companhia Oil of Olay. Ela desistiu de sua carreira de modelo em 1996 e desde então escreveu cinco livros.

A MGF é praticada em cerca de 30 países da África e da Ásia. As meninas são submetidas à remoção ou corte de alguns de seus órgãos sexuais como uma tradição cultural de iniciação.

A MGF é às vezes vista como um símbolo de status e alguns de seus praticantes dizem que controla a sexualidade e promove a castidade. Seus efeitos muitas vezes incluem infecção, dor crônica e infertilidade. A ONU proibiu a prática no ano passado. A Organização Mundial da Saúde estima que 150 milhões de mulheres são vítimas.

O Centro Desert Flower no Hospital Adventista de Berlim deverá atender entre 50 e 100 mulheres a cada ano.

O Centro Desert Flower no Hospital Adventista de Berlim deverá atender entre 50 e 100 mulheres a cada ano.

Dirie, de 48 anos, disse que a sua fundação está planejando criar outros Centros Desert Flower em todo o mundo, especialmente na África .

Outro orador do evento foi o Dr. Pierre Foldes, médico francês que em parceria com o Dr. Jean-Antoine Robein inventou uma técnica cirúrgica para reparar danos causados pela MGF. Até à data, ele operou  4.000 mulheres.

Outras vítimas da MGF participaram da cerimônia, incluindo duas mulheres que em breve se tornarão as primeiras pacientes do centro. Funcionários do hospital disseram que o centro provavelmente atenderá 50 a 100 mulheres por ano.

A Dra. Gabriele Halder, uma ginecologista, declarou que mais conscientização sobre a MGF se faz necessária, mesmo em países onde não é praticada. As mulheres de uma cultura ainda são tratadas com as tradições de sua terra natal, enquanto vivendo em países ocidentais. “As mulheres, depois da morte de seus maridos, muitas vezes são mutiladas novamente para que possam se casar de novo”, disse Halder. “Isso precisa ser detido aqui na Europa, também”.

Denise Hochstrasser, diretora dos Ministérios da Mulher da Divisão Inter-Europeia da Igreja Adventista, com sede em Berna, Suíça, disse que o novo centro ajudaria a restaurar as vítimas a como Deus as criou. “Quando as mulheres perderam partes de seu corpo por meio de mal-entendidos, tradição, práticas incompreensíveis, crime e abusos no passado, então, se pudermos, é nosso dever dar-lhes de volta tudo o que se possa para que consigam viver uma vida normal, como Deus fez com que fosse desde o princípio”, comentou Hochstrasser. “Estamos felizes de que um Hospital Adventista tem dado este passo para ajudar numa questão que em tantos países permanece em silêncio”, disse ela. “Temos que falar com essas mulheres, temos que informar sempre que possível”.

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