North America, Adventist History

In Memoriam: Herbert Douglass, de 87 anos, era teólogo adventista e autor de destaque

Um dos último desejos de Douglass era ser lembrado como uma pessoa bondosa, e pessoas que o conheciam dizem que ele assim era

Silver Spring, Maryland, United States | Andrew McChesney/Adventist Review

Herbert E. Douglass, um destacado teólogo, administrador e prolífico autor adventista, morreu esta semana após uma longa doença. Ele tinha 87 anos de idade.

Para alguns, Douglass será lembrado como o diretor do Atlantic Union College (1967-1970), presidente do Instituto Weimar (1985-1992), ou um editor-associado do que é hoje a “Adventist Review” (1970-1976).

Outros podem associá-lo com os seus mais de 25 livros e dezenas de artigos em revistas centradas em torno de seus temas favoritos de Jesus como um exemplo, da co-fundadora da Igreja Adventista, Ellen G. White como mensageira do Senhor à igreja remanescente de Deus, da preparação das pessoas para o breve retorno de Jesus, no que é chamado princípio da colheita, e do “tema do Grande Conflito”, que sustenta que as principais questões da vida giram em torno da resposta humana a Jesus e Sua lei. Dias antes de morrer na segunda-feira, 15 de dezembro, ele concluiu o trabalho em seu último livro, um manuscrito, ainda sem título sobre a Igreja Católica Romana.
 
Mas Douglass, cuja eloquente defesa da teologia adventista histórica levou a muitas discussões acaloradas em toda a Igreja, confidenciou a um amigo pouco antes de sua morte que o que mais queria era ser lembrado como uma pessoa amável. “Ele me disse que gostaria de ser lembrado como alguém que foi bondoso”, disse Don Mackintosh, capelão do Instituto Weimar que passava horas ao lado da cama de Douglass num hospital da Califórnia.

Douglass, sem dúvida, será lembrado como desejava. Não importa o que as pessoas pensavam de seu raciocínio teológico, mas concordavam que ele sempre foi atencioso, respeitoso e ansioso por oferecer encorajamento. “Ele tomava um forte interesse nas pessoas e sua compreensão teológica”, disse Ted N. C. Wilson, presidente da Igreja Adventista a nível mundial, e um amigo de Douglass por muitos anos.

“Ele se importava profundamente que mantivéssemos a nossa distinção doutrinária como adventistas do sétimo dia e me incentivou a pensar claramente sobre o que cremos como  Igreja”, disse Wilson. “Seu compromisso com a verdade da Bíblia continuará a inspirar a mim e a muitos outros ao anteciparmos adiante a breve volta de Cristo--um assunto que ele tanto amava”.

Wilson uniu-se a outros adventistas de destaque na homenagem a Douglass. “Um grande porta-estandarte realmente caiu em Israel”, disse o evangelista Doug Batchelor na sua página do Facebook. “Ele era certamente uma figura emblemática no adventismo”, disse Edwin Reynolds, biblista e professor da Southern Adventist University. “A sua sagacidade e sabedoria eram monumentais, mesmo se você não concordasse com ele em tudo. Sendo tanto um acadêmico quanto um teólogo, ele era um líder de pensamento. Que a tribo aumente”.

George R. Knight, um historiador e autor que esteve muitas vezes em desacordo com Douglass, disse que ele e Douglass escreveram amplamente sobre questões em que discordavam, mas ainda respeitavam a integridade e honestidade um do outro. “Nós dois expressávamos fortes opiniões sobre temas sobre os quais discordávamos, mas nosso relacionamento sempre foi de cordialidade e respeito”, disse Knight. “Creio que nós dois entendemos que ser um cristão em nosso relacionamento era, a longo prazo, mais importante do que as questões doutrinais que nos dividia”.  

Como Douglass se tornou adventista


Herbert Edgar Douglass Jr. nasceu em 16 de maio de 1927, em Springfield, Massachusetts, de Herbert Edgar Douglass Sr. e Mildred Jennie Munso.

Sendo o mais velho de cinco rapazes, Douglass se tornou adventista com a idade de 14 ou 15 anos depois de passar numa caminhada por uma tenda onde estavam sendo realizadas reuniões evangelísticas certo verão, e por curiosidade ali entrar. Por seu incentivo, sua mãe uniu-se à Igreja Adventista, seguida por seus quatro irmãos e, em seguida, seu pai. “Ele se tornou um adventista do sétimo dia e trouxe toda a sua família para a Igreja”, seu filho, Herb Douglass, lembrou por telefone.

O Douglass mais velho tornou-se pastor depois de se formar pelo Atlantic Union College, em 1947, mas logo entrou para o mundo acadêmico como professor de Teologia no Colégio União do Pacífico, onde trabalhou de 1953 a 1960. Seu primeiro gosto por escrita séria veio quando foi convidado a trabalhar com uma equipe de editores para produzir os oito volumes do “Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia”. Ele escreveu o comentário de cinco livros da Bíblia de 1954 a 1957.

Douglass tornou-se cada vez mais envolvido em redação após receber um doutorado em Teologia pela Pacific School of Religion, em Berkeley, Califórnia, em 1964.

“As pessoas me perguntavam sobre diferentes pontos de vista sobre este assunto e aquele assunto”, disse Douglass numa entrevista para a televisão em 2009. “Antes que percebesse, pediram para eu me tornar editor-associado de uma publicação da Igreja. Comecei a escrever e ia gostando disso. E outras pessoas pareciam querer mais, e assim continuei escrevendo”.

Civilidade Desafiada


Entre seus livros mais conhecidos estão o “Mensageira do Senhor”, de 1998, amplamente considerado o mais completo livro escrito sobre o ministério profético de Ellen White, e “Por que Jesus espera: Como a mensagem do santuário explica a Missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia”, publicado em 1976. Ele também causou sensação com um artigo da revista “Ministry”, de 1985, intitulado “Que natureza humana Jesus assumiu?”, em que, escrevendo sob o pseudônimo de Kenneth Gage, defendeu a ideia de que Jesus tomou a natureza humana pecaminosa e “foi tentado em todos os pontos como nós, mas sem pecado”.

George W. Reid, ex-diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral, e amigo de Douglass, observou que Douglass enfrentou muitos ataques afiados por seus pontos de vista. “Ele foi profundamente criticado pelos acadêmicos de esquerda, como os envolvidos com ‘Spectrum’ e publicações similares”, disse Reid. “Algumas dessas críticas o feriam, embora ele tentasse manter uma relação civilizada com eles. Trataram-no como um promotor acrítico de Ellen White, desconsiderando suas falhas, portanto, um porta-voz para a liderança”.

Mas, talvez, numa indicação da determinação de Douglass em continuar sendo um cavalheiro e manter o foco em Jesus, ele também contribuiu com uma série de artigos para o ‘Spectrum’ e publicações afins.

Douglass disse que era motivado por uma coisa só: o breve retorno de Jesus. “Esta para mim é a razão dominante por que faço qualquer coisa”, disse na entrevista televisiva, realizada pela rede de TV Better Life, da IASD. “Quero que as pessoas estejam conscientes de que este gracioso Senhor, que dirige este universo, quer todos nós em Sua família celestial. E então o que quer que faça, só estou tentando trabalhar por essa pessoa ou multidão de tal maneira que digam, ‘Ei, isso faz sentido’”.

Besebol e o sábado


Seu filho Herb, de 64 anos, disse que essa atitude combinada com o exemplo do pai de praticar o que pregava muito influenciou a sua vida. “Ele vivia o que cria. Isso é o que me impressionou como filho”, comentou. “Em uma nota pessoal, ele me trouxe de volta para o céu, me trouxe de volta para Jesus”.


O Douglass mais jovem disse que o momento mais memorável com seu pai ocorreu quando ele era um menino de cerca de 13 anos a jogar uma partida de beisebol da liga júnior numa comunidade católica em Massachusetts. O árbitro não apareceu para o jogo numa tarde de sexta-feira, e seu pai, um grande fã de beisebol, ofereceu-se para entrar em cena depois de uma longa espera. Mas, as sombras começaram a aumentar e os pais nas arquibancadas começaram a gritar em tom de questionamento e brincadeira, “Ei, Douglass, o sol está começando a se pôr. Será que vamos ter que interromper o jogo?”

Herb Douglass disse que ficou surpreso de que os outros adultos conheciam o seu pai pelo nome e entendiam as suas convicções. Mas o que aconteceu em seguida o surpreendeu ainda mais. “O que foi tão profundo para mim é que ele apenas olhou para mim e para a multidão e disse:  “Creio que temos bastante tempo para começar o jogo. Joguem a bola!’“, ordenou. “Quando saímos do estacionamento, tivemos que usar nossos faróis”. Com a voz embargada pela emoção, Herb Douglass acrescentou: “O que me ensinou como criança é que há muito mais para o cristianismo do que apenas regras”.

Escrevendo um último livro


A saúde deteriorada o deixava incapaz de ver as teclas em seu teclado do computador nos últimos seis meses de vida. Mas ele continuou trabalhando em seu último livro, que seu filho disse trazer eventos atuais sobre acontecimentos dos últimos dias da Bíblia e tem por enfoque inteiramente a Igreja Católica.

“Uma vez ele me disse: ‘Trabalhei o dia todo e eu só consegui um parágrafo escrito’“, disse Herb Douglass. Ele disse que o processo de escrita era doloroso de assistir uma vez que seu pai tinha sido capaz de completar várias páginas por dia. “Mas ele foi capaz de terminar esse livro”, disse ele. “Pouco antes de falecer, o editor do livro chamou a mamãe e disse que estava indo para o prelo”.

O livro será publicado pela Pacific Press.

Douglass deixa sua segunda esposa , Norma, que é quatro meses mais velha do que ele, e seis filhos de seus dois casamentos. Sua primeira esposa, Vivienne, morreu cerca de um ano atrás. Ele também tem oito netos e nove bisnetos.

Um culto memorial está previsto para janeiro ou fevereiro.

Perguntado em entrevista televisiva que conselho tinha para oferecer a outros, Herbert Douglass apontou para sua passagem bíblica favorita, Provérbios 3: 5-7, que disse repetir o dia e noite.

Ele recitou em voz alta, adicionando um pouco de sua própria interpretação: “‘Confia no Senhor de todo o teu coração e não te apoies em teu próprio entendimento. Reconhece-O em todos os teus caminhos’ como seu Senhor e seu magnífico Amigo, e como diz o texto em hebraico,  Ele vai suavizar o teu caminho.

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