'Tempos difíceis para a liberdade religiosa'

Jantar Anual de Liberdade Religiosa destaca líderes do pensamento e de decisões políticas

Washington, D.C., United States | Bettina Krause

A liberdade religiosa não pode ser tomada como garantida. Essa foi a mensagem contundente apresentada por Orrin Hatch, senador republicano no Senado dos Estados Unidos a um grupo de advogados de liberdade religiosa, embaixadores e representantes do Congresso que se reuniram em 29 de abril para o 13º Jantar Anual de Liberdade Religiosa em Washington, D.C.

“Estes são tempos difíceis para a liberdade religiosa, tanto aqui na América [referindo-se aos Estados Unidos] como por todo o mundo”, disse Hatch, um senador em sétimo mandato, do Estado de Utah e principal orador no evento. Num discurso de grande alcance, ele descreveu as forças sociais, políticas e jurídicas que estão remodelando a liberdade religiosa, que já foi considerado um direito humano fundamental inviolável, mas agora está sendo tratada como “apenas mais um” de muitos diferentes direitos que competem dentro da sociedade.

Hatch também falou sobre o recente aumento da violência religiosa cometida por grupos como o Boko Haram na Nigéria, e a situação das minorias religiosas em lugares como o Tajiquistão, Irã, Arábia Saudita, China e muitos outros países.

O foco do discurso de Hatch, porém, foi com preocupações mais perto de casa. Citando uma série de decisões da Suprema Corte e ações legislativas recentes,  Hatch disse que a questão da liberdade religiosa estava se tornando cada vez mais divisiva dentro da política e da sociedade americanas. Ele recordou a sua experiência de 20 anos antes, como um dos patrocinadores principais da Lei de Restauração da Liberdade Religiosa, uma legislação que visava a reforçar os direitos de liberdade religiosa. Na época, essa legislação gerou um nível quase sem precedentes de apoio bipartidário em Washington. Mas hoje, disse Hatch, legislação semelhante seria quase impossível ser aprovada.

O Senador Hatch foi aplaudido de pé quando afirmou que, “A liberdade religiosa é um direito inalienável que não vem do governo, mas do próprio Deus. Se “a eterna vigilância é o preço da liberdade”, então não há liberdade que valha mais o preço”.

As palavras do senador da Hatch vieram menos de 12 horas antes da divulgação de um novo relatório de um organismo consultivo dos Estados Unidos, que pintou um quadro sombrio da situação da liberdade religiosa em todo o mundo. A Comissão Internacional de Liberdade Religiosa dos EUA, conhecido como USCIRF, divulgou seu relatório anual na manhã seguinte ao do Jantar de Liberdade Religiosa. O relatório documenta abusos de liberdade religiosa em 33 países, revelando o que chama de “crise humanitária alimentada por ondas de terror, intimidação e violência”.

Elizabeth Cassidy, vice-diretora de política e pesquisa da USCIRF, foi uma das participantes do Jantar de Liberdade Religiosa. Quando indagada sobre as tendências do relatório anual da USCIRF que gostaria de destacar, ela apontou para um aumento preocupante de violência religiosa perpetrada pelos chamados “agentes não-estatais”, como a ISIS e o Boko Haram. Ela também destacou o vasto movimento de pessoas em fuga de regiões de conflito religioso. O relatório recém-lançado da USCIRF estima que no ano passado, cerca de 13 milhões de pessoas de países que vão da Síria, a República Central Africana, o Afeganistão e a Birmânia, foram forçadas a deixar suas casas por causa do medo da violência de motivação religiosa.

Cassidy acrescentou que eventos como o Jantar Anual de Liberdade Religiosa desempenham um papel importante em reunir uma ampla gama de pessoas e organizações em prol da liberdade religiosa.

O Jantar Anual de Liberdade Religiosa, realizado este ano no Hotel Intercontinental Willard, no centro de Washington, D.C., tornou-se uma tradição de Washington para grupos de advocacia, representantes do governo e da comunidade diplomática. É patrocinado conjuntamente pela revista “Liberty”, a Associação Internacional de Liberdade Religiosa, a Associação Norte-Americana de Liberdade Religiosa, e a Igreja Adventista do Sétimo Dia.

O Procurador Dwayne Leslie, diretor de assuntos legislativos para a Igreja Adventista a nível mundial, e Melissa Reid, diretora-executivo da Associação Americana de Liberdade Religiosa, foram dois dos principais organizadores do jantar. De acordo com Leslie, o encontro anual tornou-se um dos principais eventos de liberdade religiosa de Washington.

“Tornou-se um meio inestimável de reunir líderes e formuladores de políticas”, disse Leslie. “E isso é especialmente importante agora, quando o discurso público está cada vez mais preenchido com debate sobre o alcance da liberdade religiosa, e com exemplos trágicos de violência de motivação religiosa.”

Reid concorda, dizendo que o jantar é uma oportunidade para destacar a importância da liberdade religiosa para todas as pessoas, em toda parte, e para “reafirmar o compromisso de longa data da Igreja Adventista para com a liberdade de consciência”.

O jantar deste ano marcou a última ocasião de participação no evento do Dr. John Graz como secretário-geral da Associação Internacional de Liberdade Religiosa. Ele planeja se aposentar no final deste ano. Uma série de oradores durante a noite prestaram uma homenagem aos muitos anos de apaixonada e eloquente defesa da liberdade religiosa por Graz. Nos últimos 15 anos, ele serviu como secretário-geral da IRLA e como diretor de Relações Públicas e Liberdade Religiosa e para a Igreja Adventista do Sétimo Dia a nível mundial.

Num breve e emocionado discurso, Graz disse acreditar  que “mostrar que nós amamos e entesouramos a liberdade religiosa é a melhor resposta que podemos dar ao fanatismo religioso e à intolerância”.  Mais tarde, à noite, numa premiação sem aviso prévio, o editor de “Liberty”, Lincoln Steed, apresentou uma placa a Graz, listando muitas de suas realizações de advocacia e reconhecendo-o como um “campeão da liberdade religiosa em todo o mundo”.

Três outras pessoas também foram homenageados no jantar: Tiffany Barrans, diretora jurídica internacional e consultora jurídica sênior do Centro Americano para Lei e Justiça; Minhea Costoiu, senador da República da Romênia e Reitor da Universidade Politécnica de Bucareste, uma das maiores universidades do sudeste da Europa; e o advogado de direitos civis Charles Kester, que faleceu no ano passado.

Barrans, que tem defendido uma série de vítimas de perseguição religiosa de alto perfil internacional, foi reconhecida por seu trabalho legal e advocacia nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Ela está atualmente trabalhando em nome do Pastor cristão Saeed Abedni, que tem sido mantido numa prisão iraniana desde 2012. Ao aceitar o prêmio, Barrans pediu mais ação popular, dizendo que todos possam encontrar formas de promover “o respeito à diversidade do pensamento e prática religiosos”.

O Dr. Graz, que apresentou o prêmio para Costoiu, o chamou de “símbolo da nova geração de políticos romenos que têm dedicado suas vidas para defender e promover os valores democráticos da dignidade humana, os direitos humanos e a liberdade religiosa”. Através de muitos anos de serviço público de Costoiu, disse Graz, ele trabalhou para promover uma cultura de “respeito mútuo, aceitação e igualdade” na sociedade romena.

Todd McFarland, consultor geral-associado para a Igreja Adventista a nível mundial, fez referência ao  advogado Charles Kester, que morreu no ano passado de uma embolia pulmonar com idade de 46 anos. Kester, que trabalhou em estreita colaboração com os assessores jurídicos da Igreja Adventista em muitos casos de liberdade religiosa cruciais em todo os Estados Unidos, não era religiosa ou socialmente conservador, disse McFarland, mas estava apaixonadamente comprometido com o princípio da liberdade religiosa. McFarland prestou homenagem à habilidade e dedicação da Kester, chamando-o de “defensor inflexível do oprimido”. A vida e trabalho de Kester demonstraram uma verdade fundamental, disse McFarland, que “a liberdade religiosa não conhece nenhum partido político e não conhece o partidarismo. É um direito humano universal”.

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