Trans-Europe

Igreja Adventista na Hungria se reconcilia com grupo separatista depois de 40 anos

As duas partes concordam em fazer as pazes depois de uma separação sobre diferenças na era soviética

Silver Spring, Maryland, USA | Andrew McChesney/Adventist Review

A Igreja Adventista do Sétimo Dia na Hungria e um grupo separatista de centenas de ex-adventistas concordaram em pôr de lado ressentimentos passados e trabalhar para curar um cisma de 40 anos.

A divisão na Igreja húngara deu-se em 1975 em meio a um protesto de jovens pastores e outros membros sobre a colaboração dos líderes da Igreja local com o Conselho de Igrejas Livres, um corpo formado para representar os interesses comuns das pequenas denominações protestantes que mais tarde se tornaria uma ferramenta do Estado comunista.

Tamás Ócsai, presidente da União Associação Húngara, assinou um documento intitulado “Declaração Conjunta Sobre Acerto do Passado e Construção de um Futuro Melhor” com János Cserbik, líder da KERAK, como o grupo dissidente é conhecido, numa cerimônia na semana passada. “Estou muito satisfeito por este cisma de 40 anos estar chegando ao fim para a maioria das pessoas”, disse Benjamin D. Schoun, vice-presidente geral da Igreja Adventista a nível mundial, que desempenhou um papel fundamental em trazer os dois lados no rumo da reconciliação.

“É um testemunho do uso de métodos bíblicos para a reconciliação e a vontade por parte de ambos os lados de encontrar-se um com o outro”, disse Schoun à “Adventist Review” na sexta-feira. “Eles ainda têm muitos detalhes a harmonizar, e devemos continuar a orar por essa iniciativa”.

A Igreja Adventista na Hungria tem 4.629 membros adorando em 104 igrejas, enquanto a KERAK tem entre 1.500 e 1.800 membros, disseram líderes de igrejas locais, sexta-feira. Os líderes da Igreja antecipam que cerca de 600 membros vão voltar este verão, enquanto 400 não pretendem voltar e os demais são abertos à ideia.

Longo caminho para a reconciliação

O longamente aguardado documento de reconciliação é visto como um primeiro passo para reunir os dois lados. Para chegar ao acordo, a Igreja Adventista reconheceu que tinha expulsado o grupo dissidente de 518 crentes em grande parte sem mérito em 1975. “Depois de muita turbulência, que abalou a Igreja no seu âmago, o grupo foi desassociado, principalmente sem uma razão bíblica válida” dizia um comunicado da Divisão Trans-Europeia da Igreja Adventista, que inclui a Hungria.

Os crentes desassociados inicialmente se organizaram como uma Igreja clandestina no que era então um país do bloco soviético, mas o grupo mais tarde surgiu como a denominação oficial KERAK, ou Comunidade Cristã Adventista.

A KERAK e a Igreja Adventista começaram a se afastar na espiritualidade, cultura e estrutura organizacionl ao longo dos anos, um processo que se acelerou após o colapso do regime comunista em 1989. Os líderes adventistas de todos os níveis da Igreja procuraram reunir a Igreja húngara, e vários pastores e até mesmo congregações voltaram à Igreja Adventista.
Os líderes adventistas pediram desculpas quatro vezes entre 1989 e 1995, mas alguns membros da KERAK não estavam prontos para aceitá-los e outros não tinham conhecimento deles, contaram líderes de igrejas locais.

As discussões de unificação pareciam não levar a lugar nenhum, e as conversações sérias cessaram por volta de 2000.

Em 2011, uma nova geração de líderes KERAK iniciou uma série de conversações com a liderança da União e Associação. Ao ouvir que o grupo poderia estar interessado em voltar, o presidente mundial da Igreja Adventista,  Ted N. C. Wilson, pediu a Schoun para acompanhar a situação. Foram tomadas medidas para Schoun e o assistente do presidente da Divisão Trans-Europeia, Raafat Kamal, conversarem com a KERAK e líderes da Igreja na Hungria. “A primeira reunião foi em grande parte um evento de escuta e de averiguação”, disse Schoun.

Schoun viajou para a Hungria várias vezes mais com Kamal, que agora é o presidente da Divisão, bem como com o ex-presidente da Divisão, Bertil Wiklander. Toda vez ele se reuniu com os líderes locais, e, mais tarde, organizou reuniões públicas. “Eu me desculpei onde a Igreja cometeu erros, e tivemos longas sessões de perguntas e respostas com o povo KERAK”, disse Schoun. “A confiança começou a ser construída, e cada visita ajudou a aproximar os grupos”.

Schoun, que viajava pela Nigéria esta semana, não esteva presente quando o documento de reconciliação foi finalizado e liberado. “Eu procurava estabelecer uma relação entre os líderes de ambos os lados”, disse ele. “Quando isso foi estabelecido, eles foram capazes de levar avante o planejamento por conta própria”.

O ponto da virada na Hungria

O acordo de 23 de abril sinaliza um ponto de significativa virada na vida da Igreja húngara, declarou a Divisão Trans-Europeia. “O documento lista os imperativos bíblicos sobre unidade e perdão e também contém desculpas mútuas”, disse. “Ambos os lados se comprometem a construir um futuro juntos a fim de cumprir a missão que Deus confiou à Sua Igreja”.

Os líderes da Igreja advertiram que os desafios permanecem na construção de uma forte unidade espiritual e emocional depois de 40 anos de incompreensão e de inimizade.

“Mas temos uma esperança, que Deus, que ‘estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação’, vai liderar este processo como vimos Ele atuando até agora”, dizia o comunicado da Divisão, citando 2 Coríntios 5:19.

Kamal, presidente da Divisão, disse que tem grandes esperanças para a Igreja húngara. “Eu louvo a Deus por Sua graça em levar ambas as comunidades ao pé da cruz onde o perdão, cura e amor segundo o exemplo de Cristo dominaram mentes e corações”, disse Kamal.

“Nos últimos dois anos eu pessoalmente testemunhei em primeira mão genuínas expressões da reconciliação por membros e líderes igualmente”, disse ele. “Cristo está vindo em breve, e Ele está unindo nossos crentes adventistas na Hungria para terem uma só mente, focando sobre  a missão de ser sal e luz”.

 

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