Será Roma a capital da liberdade religiosa no mundo novo?

O tempo dirá se uma nova iniciativa de liberdade de consciência vai durar

John Graz

Roma lançou recentemente o "Observatório Sobre Liberdade Religiosa", uma iniciativa que visa a tornar Roma "ponto de referência para a defesa da liberdade religiosa no mundo".

Esta iniciativa é apoiada pelo prefeito de Roma, o Pontífice Romano, os funcionários do Vaticano e vários diplomatas internacionais. Segundo a imprensa, o observatório é uma conferência "dedicada à situação e proteção das minorias cristãs no mundo".

Tive sentimentos mistos ao consideradar este relatório. Quatro anos atrás, compartilhei um sonho semelhante com os meus colegas ao nos reunirmos para um Encontro de Especialistas da Associação Internacional de Liberdade Religiosa. Eu perguntei:  "Onde poderíamos organizar um Fórum Mundial sobre a Liberdade Religiosa numa cidade que tem longas associações com a causa da liberdade religiosa?" Consideramos várias possibilidades -- talvez Richmond, Virginia, casa de Thomas Jefferson e James Madison, nos Estados Unidos, o conhecido "pais da liberdade"; La Rochelle, na França, em memória dos huguenotes perseguidos; Genebra, na Suíça, ou Toronto, no Canadá.

Mas nunca consideramos Roma. Sabíamos que ao longo de sua longa história, Roma tem sido mais comumente associada com a repressão religiosa do que com a liberdade religiosa.

Por mais de três séculos, os imperadores de Roma promoveram campanhas brutais contra os cristãos e contra a Igreja. Mesmo após a cristianização do Império Romano, a perseguição religiosa não desapareceu; apenas a identidade das vítimas mudou. Pelo próximo milênio, não-cristãos, dissidentes e hereges se tornaram alvos da repressão de Roma.

Não há dúvida de que a situação mudou dramaticamente. Desde o Concílio Vaticano II de 1960, a Igreja Católica tornou-se mais aberta ao direito dos indivíduos de escolher sua religião. Várias declarações pontifícias nas últimas décadas têm afirmado esse ideal.

Mas, como uma instituição, a conversão da Igreja Católica à causa da liberdade religiosa veio no fim do jogo -- muitos anos depois do trabalho pioneiro de grupos religiosos, incluindo os menonitas, batistas e adventistas do sétimo dia. A Igreja Católica começou a abraçar a liberdade religiosa 70 após a AILR ter sido formada pelos líderes adventistas, e mais de 15 anos depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos ter sido votada em Paris em 10 de dezembro de 1948.

Assim, estão os retardatários à liberdade religiosa agora se preparando para liderar o caminho? E se assim for, é este um desenvolvimento positivo?

Depende. A liberdade religiosa em todo o mundo hoje precisa de tantos defensores quantos puder reunir, independentemente de sua trajetória histórica. Se uma Igreja ou organização manifesta o seu apoio incondicional ao direito das pessoas crer e cultuar livremente, isso só pode ser um desenvolvimento positivo.

Mas perguntas ainda continuam se Roma, através dessa nova iniciativa, vai realmente defender os direitos de todos, não importa a sua tradição de fé. Deve demonstrar que será uma voz apaixonada por pessoas tais como evangélicos perseguidos e Testemunhas de Jeová em todo o mundo, bem como pelos direitos de Igrejas tradicionais.

No ano passado, vimos a Igreja Ortodoxa Russa -- nãoconhecida historicamente por seu zelo em defender a liberdade religiosa para todos -- organizar um simpósio em Moscou com enfoque na perseguição das minorias cristãs em todo o mundo. A filial da AILR na Rússia, que tem mantido reuniões bem sucedidas e simpósios em Moscou todos os anos desde o colapso do regime comunista, congratulou-se com esta nova iniciativa pela religião dominante do país.

Os tempos podem estar mudando. Vozes que historicamente têm mantido silêncio quando se trata dos direitos das minorias religiosas podem de fato estar se preparando para tornarem-se ativas defensoras da liberdade religiosa.

Só o tempo dirá se o Observatório da Liberdade Religiosa vai fazer Roma avançar como uma "capital internacional da liberdade religiosa". E só o tempo dirá se Roma tem a intenção de defender uma noção ampla de liberdade religiosa, que reflete o ideal articulado no artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

--John Graz é Secretário Geral da Associação Internacional de Liberdade Religiosa, uma organização não-sectária, que foi criada em 1893.

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