Postura da Igreja sobre homossexualidade é ajustada para incluir 'compaixão'

Declarações oficiais atualizadas e modificadas para reafirmar a posição bíblica

Silver Spring, Maryland, United States | Edwin Manuel Garcia/ANN

A Igreja Adventista do Sétimo Dia na quarta-feira reafirmou a sua posição contra a atividade homossexual e casamento do mesmo sexo, mas também suavizou a declaração da posição denominacional para oferecer compaixão para com os gays.

A declaração de praxe de meia página sobre homossexualidade foi aprovada esmagadoramente pelo voto de levantar a mão por mais de 200 pastores, leigos e outros obreiros denominacionais que participaram da sessão administrativa da Comissão Executiva do Concílio Anual de 2012 na sede da denominação em Silver Spring, Maryland, Estados Unidos.

Os dirigentes da Igreja disseram que a declaração original elaborada em 1999, era clara e baseada nos ensinamentos bíblicos. Eles decidiram atualizar o documento para transmitir a mensagem de que a Igreja não aceita a prática homossexual, mas deve reconhecer a necessidade de ministrar aos gays com compaixão, disse o vice-presidente Pardon Mwansa, que presidiu a comissão de praxes que recomendou a mudança.

"Nós sentimos que precisávamos fechar esta declaração com uma frase mostrando que a Igreja está disposta a revelar um espírito de compaixão semelhante ao de Cristo para com aqueles que praticam a homossexualidade", disse Mwansa aos participantes que representavam os líderes da Igreja em seis continentes.

A declaração -- que não define compaixão nem explica como a Igreja deve tratar os homossexuais -- também foi reeditada para mostrar, numa posição mais forte do que antes, que a Igreja pretende permanecer fiel às Escrituras.

A última sentença do documento de três parágrafos agora reza: "Como Seus discípulos, os adventistas do sétimo dia se empenham por seguir a instrução e exemplo do Senhor, vivendo uma vida de compaixão e fidelidade, segundo o exemplo de Cristo".

Nenhum dos delegados no auditório falou sobre o assunto antes de votar.  Mas um item mais controverso da agenda, a declaração revisada de postura tratando do casamento homossexual, provocou uma reação mais apaixonada, às vezes voltada para a questão em si, e outras vezes sobre nuances gramaticais envolvidas na edição pelo grupo de uma dissertação controversa.

Ian Sweeney, presidente da União Britânica, dirige-se aos dirigentes da sessão durante a discussão.

Ian Sweeney, presidente da União Britânica, dirige-se aos dirigentes da sessão durante a discussão.

Os líderes da comissão disseram que decidiram revisar a declaração sobre união do mesmo sexo a fim de refletir as tendências da sociedade, tais como reconhecimento de que alguns governos têm dado legitimidade a uniões do mesmo sexo.

"As instituições do casamento e da família estão sob ataque", declarou Willie Oliver, membro da Comissão de Praxes e co-diretor dos Ministérios da Família para a Igreja global, citando uma linha que agora faz parte da nova declaração.

A declaração também suprimiu o termo "desordem" -- considerado ultrapassado – e o substituiu por "distúrbio" para descrever a homossexualidade. Essa linha no documento de cinco parágrafos, agora reza: "A homossexualidade é uma manifestação de distúrbio e quebrantamento em inclinações e relações humanas causados pela entrada do pecado no mundo."

E, a exemplo da declaração sobre homossexualidade, a declaração sobre o casamento homossexual tenta incluir compaixão. A versão anterior declarava: "Consideramos que todas os indivíduos, não importa qual seja a sua orientação sexual, são filhos de Deus". A nova versão diz: "Acreditamos que todas as pessoas, independentemente da sua orientação sexual, são amadas por Deus".

Um delegado da Europa tentou alterar a declaração para eliminar a afirmação sobre a homossexualidade ser um "distúrbio", sugerindo que a Igreja fosse mais sensível. Sua proposta foi rejeitada pela membro leigo Gina Brown, da Divisão Norte-Americana, e, finalmente, pelo corpo inteiro. "Apesar de muitos de nós terem membros da família que são homossexuais, entendemos o processo de pensamento, ainda os abraçamos, ainda os amamos, ainda nos preocupamos com eles", disse Brown. "No entanto, como Igreja, temos de tomar uma posição pelo que é certo".

Ekkehardt Mueller, vice-diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica, elogiou a comissão por ter incluído uma frase na linha proposta para alteração ligando homossexualidade à "entrada do pecado" no mundo.

Ekkehardt Mueller, vice-diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica, dirige-se à Comissão durante a discussão.

Ekkehardt Mueller, vice-diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica, dirige-se à Comissão durante a discussão.

"Sentimos ser isto necessário, neste contexto, especialmente porque os homossexuais hoje negariam qualquer noção de pecado e diriam, 'isto é como fomos criados, Deus criou-nos desta forma, e, portanto, temos o direito e o dever de manter este estilo de vida', então eu seria oposto à emenda", disse Mueller.

O tema da homossexualidade, e questões transexuais, levou um delegado, o presidente da União Britânica, a pedir aos líderes da Igreja orientação ante uma situação vivida recentemente em sua região. "Temos um irmão que há duas semanas voltou para a igreja como irmã. Legalmente, pela lei britânica, ele agora é irmã, teve as operações. Nunca encontrei nada parecido com isso em meu ministério", disse Ian Sweeney, num discurso para os membros da Comissão de Praxes. "Nós precisamos de alguma ajuda nessa questão".

Sweeney não obteve a resposta que provavelmente estava esperando, mas tornou-se óbvio que a Igreja vai ter de enfrentar a questão novamente no futuro.

"Temos recebido pedidos de outras partes do campo mundial sobre situações em suas igrejas. O Manual da Igreja não tem muito a dizer -- na verdade, muito pouco a dizer -- sobre este assunto, de forma que estas são questões que nós estamos tendo de defrontar no corpo da Igreja", respondeu o vice-presidente da Igreja Adventista, Ben Schoun, vice- presidente da comissão de praxes.

"Talvez a comissão traga sugestões ou orientação", disse Schoun.

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