Inter-European, Trans-Europe

O SÁBADO MUNDIAL DO REFUGIADO DESTACA UMA “IGREJA SANTUÁRIO” NO SUL DA ITÁLIA.

Um relatório do Sábado do Refugiado de 2017

Castel Volturno, Italy | Victor Hulbert / tedNEWS / EUDnews

Jean* enfrentava uma escolha duríssima: Assumir a liderança da fé animista de seu pai ou enfrentar consequências mortais. Jean é um cristão. Sua única escolha era deixar não apenas a sua comunidade, mas o seu país. Chegou à Líbia. Lá estava segura e foi aí que planejou ficar—até que a guerra civil começou e o regime caiu. Então ela teve que sair. Não podia ir para casa. O perigo mortal do Mediterrâneo era a sua única esperança. 

Patrick também deixou sua aldeia temendo pela sua vida. Os chefes tribais estavam lutando. Visando a escapar da morte em casa, pouco se deu conta de quão traiçoeira seria a estrada que o levaria pelos desertos e montanhas. Ele viu o seu amigo morrer de desidratação pela estrada. Não foi o único a morrer naquela jornada. 

Ray compartilhou a forma como as contrabandistas de pessoas deixaram o seu grupo em meio ao deserto. Eles tiveram que andar sem comida nem água.

Ruth, uma nigeriana, teve que sair de casa depois que o seu marido fugiu com outra mulher. Ela não podia sustentar os seus dois filhos e a sua mãe. Estava desesperada. Ela não queria ir, mas não tinha escolha. Grávida e aterrorizada, viajou para o norte por caminhão, van e finalmente a pé. Viu mulheres sendo estupradas, levadas à prostituição, espancadas e abusadas durante a jornada, mas louvaram a Deus que, apesar de ter passado quatro meses numa prisão líbia, ela escapou do pior dos danos. Perdeu o bebê aos sete meses. Sofreu intoxicação alimentar, mas com a ajuda de amigos, finalmente conseguiu ocupar uma embarcação e foi resgatada pela guarda costeira italiana. 

Essas histórias não são para chocar, mas para compartilhar, que em circunstâncias desesperadas, pessoas são forçadas a fazer escolhas extraordinárias. Não estão procurando a terra prometida na Europa, mas à procura de segurança. 

O que se faz triste sobre o Sábado Mundial do Refugiado de 2017 é que os refugiados ainda estão conosco. Embora o noticiário se transfira para outros tópicos, os refugiados ainda realizam viagens de barco perigosas, às vezes fatais, no Mediterrâneo. Ainda estão lutando, tentando tirar o melhor proveito de uma situação desesperada. Sua história não pode ser esquecida. Como foi enfatizado durante o culto da manhã de sábado, transmitido ao vivo pela Internet a partir de uma igreja em grande parte de refugiados no sul da Itália, “a pessoa de negócios de hoje pode tornar-se rapidamente o refugiado de amanhã”. 

A igreja está em Castel Volturno, uma cidade carente e de alta criminalidade, a cerca de 35 km a noroeste de Nápoles, na Itália. No entanto, aqui, os membros adventistas do sétimo dia recebem migrantes que fizeram a perigosa passagem da Líbia para a Itália e que agora estão tentando construir um futuro seguro contra os horrores que deixaram para trás. O pastor David Malaguarnera e um pequeno grupo de membros carinhosos compartilham o seu amor com cerca de 70 requerentes de asilo que se instalaram na área, muitos trabalhando como operários ocasionais nos campos e fábricas locais, outros achando empregos de limpeza ou qualquer coisa que lhes dê uma pequena renda. A igreja está aberta para aulas de italiano, e um projeto agrícola patrocinado pela ADRA Itália oferece treinamento e emprego. A ADRA Itália também administra um serviço de microônibus muito necessário para que os refugiados trabalhem numa cidade tão pobre que o serviço de ônibus foi cancelado. O microônibus é tão pobre quanto a própria cidade e constantemente quebra. 

As histórias de refugiados foram contadas durante os cultos transmitidos ao vivo, um concerto e uma série de entrevistas de partir o coração para o Sábado Mundial do Refugiado, em 17 de junho de 2017. A transmissão ao vivo também incluiu relatórios da Ajuda Adventista em Mosul, ADRA Sérvia e dos campos de refugiados do norte da França, juntamente com outros grupos que estão ajudando em toda a Europa, como Eslováquia, Dinamarca, Alemanha, Romênia, etc. 

A maioria dos migrantes em Castel Volturno é da África subsaariana. Alguns já eram adventistas antes de chegarem. Outros encontraram fé em sua jornada ou, como Jean, ficaram amigos depois de chegarem a Castel Volturno. Ainda frequentemente explorados como trabalhadores ocasionais e vivendo em acomodações miseráveis, a igreja é sua segurança e alegria, mas também uma base para testemunhar. Eles cultuam sacrificando-se para arranjar dinheiro para roupas para o sábado, ou, como uma senhora nos disse, levantam às 5 da manhã para circular pelas ruas para encontrar roupas descartadas por frequentadores de festas na noite anterior. 

Eles cantam, adoram, oram e se regozijam continuamente porque, mesmo sob circunstâncias difíceis, Deus está com eles. Outras Igrejas cristãs na cidade também estão fornecendo apoio. 

Dave é um homem corpulento. Ele havia se mudado de uma fazenda rural em Gana que não era suficientemente grande para sustentar a sua família. Obtinham menos do que o nível de subsistência. Ele se mudou para a Líbia e trabalhou com êxito em construção. A vida era melhor para ele e estava enviando dinheiro para a sua família. Ele também foi atingido pela guerra civil e a consequente quebra da lei e da ordem. Ele sofria ameaças, mesmo por crianças pequenas. Adolescentes o ameaçaram empunhando tábuas de madeira com pregos pregados através delas. Não fosse pela intervenção de um bravo homem líbio, ele estaria morto. 

Ele não se sentia mais seguro, mas não podia voltar para casa. Totalmente ciente do perigo dos velhos barcos de madeira que os contrabandistas lotavam com carga humana, muitas vezes sob a mira de armas e depois deixados à deriva no mar, ele ainda via isso como a sua única chance. Fez duas tentativas. Na primeira vez esteve no mar durante 5 dias sem comida ou água. Finalmente, o barco, com 200 passageiros, voltou para a costa da Líbia e terminou na praia. 

Durante esse tempo, seus companheiros viagem o chamavam de “padre”, pois ele orava com eles e os encorajava com esperança. Hoje ele trabalha num projeto agrícola patrocinado em parte pela ADRA Itália, ‘Lavoriamo terre migranti’, aprendendo habilidades de cultivo e gestão de pessoas. Ele tem esperança e é líder na igreja, muitas vezes apoiando, orando e aconselhando novos recém-chegados. Sua família ainda está em Gana e ele trabalha muito para enviar dinheiro para apoiá-la. Companheiros, jornalistas e toda a equipe voluntária do Dia Mundial do Refugiado da ADRA Italia, Divisões Transeuropeia e Intereuropeia, Hope Channel, Itália, e Radio Voce della Speranza-Roma, muitas vezes se encontraram perto das lágrimas enquanto ouvindo as histórias, mas também sentindo o calor e a esperança nos corações dos membros. 

Um membro desse tipo, originalmente de Fiji, foi transferido da igreja de Nápoles para Castel Volturno para ajudar com tradução. Seu coração se abriu e ela se apaixonou pelos refugiados. “Nós somos todos uma família”, disse ela, “nesta igreja não há cor de pele ou preconceito, somos família”. Esse foi um pensamento que o Pastor David Malaguarnera enfatizou em seu sermão, observando as palavras de Paulo de que “em Jesus Cristo não há judeu nem grego, nem escravo nem livre”. Para aqueles que se encontraram em trabalho forçado, ou pior, durante a jornada, essas palavras tinham um significado real. 

Para Corrado Cozzi, diretor de comunicação da Divisão Intereuropeia, que assumiu a liderança principal na organização do Dia Mundial do Refugiado de 2017, o propósito dele foi claro: “Podemos criar este contato hoje com o resto do mundo e dizer, ‘estamos com vocês, conhecemos a sua história, oramos para que o Senhor recupere as suas feridas profundas causadas pelos desafios de que você teve que escapar da tragédia de sua vida’”. Cozzi, recentemente abençoado como avô, encontrou-se espontaneamente abraçando bebês, expressando a esperança de que essas crianças agora tenham um futuro. 

Com entusiasmo, Dag Kristian Pontvik, diretor nacional da ADRA Itália, está buscando meios de fazer mais para os migrantes nesta área e em outras partes da Itália. Além da grande necessidade de substituir o microônibus local, ele quer ampliar o projeto e incentiva igualmente outras igrejas na Itália a abrirem suas portas e corações para a comunidade de migrantes. Isso inclui estudantes de Teologia na Villa Aurora, a faculdade adventista perto de Florença, que estão dando treinamento de futebol e companheirismo a um grupo de meninos migrantes de menos de dezesseis anos, alojados num albergue próximo. 

Mas o seu apelo vai muito além da Itália e o evento de uma vez por ano de um dia de refugiados. Sua súplica é para o coração do cristianismo e o envolvimento total dos membros—observando a compaixão de Jesus pelos despossuídos e a maneira como as pessoas em transição são muitas vezes mais abertas ao Evangelho, especialmente quando esse evangelho é expresso de maneira prática. Haverá outro dia de refugiados no próximo ano, mas, ele implora, não espere até então para se envolver, veja como pode fazer a diferença agora. Deseja ajudar?  

A ADRA Itália está buscando reunir 20 mil euros para substituir o microônibus de Castel Volturno e qualificar refugiados para dirigi-lo.  

A ADRA International agradeceria suas doações para projetos de refugiados.  

A Ajuda Adventista, uma instituição de caridade da ASI, está fornecendo serviços médicos em campos de refugiados na Grécia e no Irã. Eles precisam de voluntários e apoio financeiro. Veja a página do Facebook.

Também vejam o Dia Mundial do Refugiado de 2016.

Vídeos com reportagens sobre os refugiados.

Ajudar os refugiados é tão importante quanto a pregação da Segunda Vinda.

* Os nomes foram alterados para proteger a privacidade.

 

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