General Conference, North America

AS AMEAÇAS À LIBERDADE RELIGIOSA EXIGEM A DUPLICAÇÃO DE ESFORÇOS DOS SEUS DEFENSORES

O 8º Congresso Mundial da IRLA abre com recursos para estender a liberdade religiosa a todos.

Fort Lauderdale, Florida, United States | Marcos Paseggi, Adventist Review

“A religião despeja U$ 1,2 trilhão na economia dos EUA a cada ano”, declarou Brian J. Grim, cientista social e diretor de Recursos Religiosos Internacionais da entidade Pew Forum. “Isso é 50 por cento mais do que as seis maiores companhias de petróleo dos Estados Unidos”. A surpreendente revelação de Grim fazia parte de uma introdução a um relatório atualizado sobre o estado da liberdade religiosa em todo o mundo, no dia da abertura do 8º Congresso Mundial da Associação Internacional de Liberdade Religiosa (sigla IRLA) em Ft. Lauderdale, Flórida, EUA, em 22 de agosto. 

A apresentação de Grim surgiu após a abertura oficial do evento, que reuniu cerca de 600 defensores da liberdade religiosa, oficiais do governo e líderes da Igreja de 65 países. Durante o evento de três dias, eles vão ouvir seminários que despertam séria reflexão, participarão de sessões em quatro línguas diferentes e criarão redes de contato com outros defensores da liberdade religiosa. 

“A liberdade religiosa [é] um princípio de dignidade para a humanidade”, explicou Ganoune Diop, secretário-geral da IRLA e diretor de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da Igreja Adventista do Sétimo Dia. “A IRLA está comprometida com a tarefa . . . de tornar este mundo um lugar melhor para milhões, [um lugar onde] as pessoas possam experimentar liberdade de consciência, liberdade de crença e liberdade de expressão”.

Ao enumerar brevemente algumas das realizações da organização nos últimos cinco anos, Diop lembrou aos participantes que a IRLA vem participando de discursos e debates públicos, envolvendo fóruns internacionais sobre liberdade religiosa e a paz, realizando reuniões de especialistas das principais universidades e ajudando as pessoas a entenderem melhor o que significa a liberdade religiosa. 

“Todos os anos envolvemos o mundo acadêmico para ajudar a desenvolver uma cultura religiosa de liberdade religiosa, uma cultura dos direitos humanos”, disse Diop, que lidera a organização não-governamental, não sectária, sem fins lucrativos, fundada em 1893 que atualmente se associa a entidades de mesma visão em 80 países, com correspondentes em 172 países de todo o mundo. 

Condição Atual da Questão

Grim, por outro lado, abriu sua apresentação de slides sobre o estado atual da liberdade religiosa em todo o mundo divulgando o fato de que 40 por cento dos países do mundo sofrem grandes restrições à liberdade religiosa ou à liberdade de crença. Uma vez que muitos deles são nações populosas, isso chega a representar um montante de 5,9 bilhões da população mundial, disse Grim, com base num estudo recente de 198 países e territórios da Pew Research.

“Isso significa que, em comparação com 2007, em 2015, 1,1 bilhão de pessoas a mais sofreram redução de sua liberdade religiosa”, disse ele. 

Grim explicou que as restrições geralmente provêm de duas fontes—os governos e a sociedade, ou o que os especialistas chamam de “hostilidades sociais”. Ambos estão frequentemente interligados, explicou. 

Por exemplo, alguns estados da Índia aprovaram leis para evitar que alguém matasse vacas, que são consideradas animais sagrados, disse Grim. “Embora esta seja uma restrição do governo, muitas vezes leva a hostilidades sociais, já que algumas pessoas estão prontas para matar qualquer um que decida criar vacas”. 

Outros fatos surpreendentes derivados do estudo do Pew Research mostram que o número de governos que assediam ou intimidam seus cidadãos por motivos religiosos passaram de 118 para 157 no mesmo período, o uso pelo governo de força física de 61 para 106 e a interferência do governo com o culto de 112 a 146. “Em 54 países, o governo tinha regulamentos sobre símbolos religiosos em 2015—em cotejo com  apenas 21 em 2007”, ressaltou Grim.

Na área de restrições sociais, Grim revelou que 27 por cento dos países sofrem altas restrições sociais, o que equivale a 4,1 bilhões de pessoas, ou 54 por cento da população mundial. Os ataques a pessoas acusadas de ofender a fé majoritária do país passaram de 48 países em 2007 para 89 em 2015. Por outro lado, a aplicação coercitiva de normas religiosas estava presente em 73 países (em comparação com 35 países oito anos antes), e mulheres foram confrontadas por vestuários religiosos em 49 países (em comparação com apenas 14 em 2007). 

“Países onde a violência das massas relacionada à religião foi documentada passou de 23 para 53, e o terror relacionado à religião—como o promovido pelo ISIS—passou de 60 para 78”, disse Grim.

Uma linha luminosa

Apesar de uma imagem bastante sombria do estado da liberdade religiosa em todo o mundo, Grim disse que há motivos para esperança. “Atualmente, 83 por cento dos países têm iniciativas para reduzir as restrições religiosas e 56 por cento têm iniciativas interreligiosas”, afirmou. “Além disso, 38 por cento dos países têm iniciativas para combater a discriminação religiosa e 20 por cento têm iniciativas educacionais e de treinamento”.

Grim também destacou dezenas de iniciativas de indivíduos em todo o mundo que contribuem para ambientes sociais saudáveis onde a liberdade religiosa pode prosperar. Entre eles, apresentou Abdo Ibrahim El Tassi, empresário libanês canadense que patrocina e fornece microcréditos a refugiados muçulmanos, Y. W. Junardy, um empresário indonésio e filantropo que patrocina casamentos em massa para casais de baixa renda de múltiplas religiões que não podem pagar as taxas exigidas para um casamento legal, E H. Bruce McEver, uma combinação rara de teólogos de Harvard e capitalista de risco que lançou a Fundação para Alfabetização Religiosa, uma organização que oferece seminários que reúnem líderes empresariais e pensadores religiosos, para promover a compreensão religiosa como uma ação global de boas práticas. 

A liberdade religiosa integral não é um direito isolado, mas parte de uma rede mais ampla de direitos humanos, disse Grim, que compartilhou como se alinha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (SDG). Professor aposentado da Faculdade de Divindade de Harvard, David Little, que falou depois de Grim, ecoou as palavras deste. Discutindo a inteligação de liberdade religiosa e da paz, Little disse que ambas estão intimamente relacionadas. “Há evidências empíricas da forte conexão entre as duas”, disse ele. “E a liberdade religiosa prospera quando outros direitos também são protegidos, [especialmente] no contexto das democracias constitucionais”. É neste contexto de liberdade religiosa como um caminho para a paz que Little disse que devemos redobrar nossos esforços para apoiar esse direito humano fundamental. “A lição mais importante [que podemos aprender] é a importância de um compromisso com a liberdade religiosa porque promover a paz assegurando a liberdade religiosa tem poder em si mesmo”, afirmou.

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