“A REFORMA É INTERMINÁVEL”, DIZ LÍDER ADVENTISTA AO PARLAMENTO EUROPEU

Raafat Kamal, presidente do território transeuropeu da Igreja Adventista do Sétimo Dia, falou sobre a graça e a tolerância durante o Parlamento Europeu em Bruxelas, na Bélgica.

Brussels, Belgium | Victor Hulbert, communication director, Trans-European Division/tedNews

Juntamente com principalmente teólogos luteranos, pastores, membros do Parlamento Europeu (MEP) e historiadores da Igreja, Kamal foi convidado a falar no evento do Comitê Celebratório do Parlamento Europeu na terça-feira, 17 de outubro, no prédio do Parlamento em Bruxelas, na Bélgica.

Organizado pelo deputado Hannu Takkula, vice-presidente do Intergrupo Parlamentar para a Liberdade de Religião e Crença, o objetivo do dia foi explorar lições da Reforma que possam moldar positivamente a Europa no futuro. 

Desde o início, houve uma forte ênfase na “graça”, um conceito que, segundo o bispo Simo Peura da Igreja Evangélica-Luterana da Finlândia, “abre o papel profético da comunidade”. Ele notou o exemplo de Lutero em Wittenberg de um “fundo comum para os pobres”, e sua forte ética de trabalho que era para o bem-estar de toda a comunidade. 

O deputado holandês, Peter van Dalen, também se concentrou na importância da graça, observando que estava intimamente ligada ao “fazer justiça” (Salmo 37). Ele afirmou que é “essencial para nós, como políticos, buscar a justiça e evitar a injustiça”. Enfatizou que “o bom governo buscará o bem-estar do nosso próximo”, acrescentando: “A política graciosa é direcionada para “o outro”, um vizinho, o meio ambiente”.

A tradução da Bíblia para as línguas nacionais foi considerada significativa por vários palestrantes. A chave, de acordo com o teólogo e historiador húngaro, Dezsö Buzogatusny, foi que colocava a Bíblia na mesa de cada família. Também ajudou a estabelecer a língua,  e, igualmente, conduziu à identidade nacional. A ênfase na leitura das Escrituras levou à educação—inclusive para as meninas! Isso transformou a Europa. Ele declarou vigorosamente que a escola, serviço social e missão ainda são a chave para hoje. 

Os oradores observaram que muitas questões da Reforma ainda eram altamente significativas hoje. “A tolerância ainda é um grande problema”, disse o deputado Arne Lietz. O sacerdote ortodoxo, padre Heikki Huttunen, observou que diferentes tradições cristãs podem se unir “no relevante, e não na rotina”. Com isso ele quis dizer que diferentes abordagens de uma variedade de origens podem levar a uma melhor compreensão em áreas de testemunho, justiça e hospitalidade. “A migração é um problema, não apenas para aqueles que entram na Europa, mas também para os que se deslocam internamente”, explicou. Ele sublinhou a necessidade de uma entrada segura na Europa para reduzir o tráfico de seres humanos e a exploração criminal. “A Igreja precisa trazer essa discussão à mesa”, afirmou. 

Kamal foi um dos últimos palestrantes que levou o público atento de volta ao conceito de graça, expondo o princípio do Antigo Testamento em Miqueias 6: 8, para “fazer justiça, amar a misericórdia e caminhar humildemente com o seu Deus”. 

“Martinho Lutero, com a sua consciência transformada, manteve-se firme a esse conceito, que desde então inspirou gerações de crentes e pessoas não-religiosas. Durante o discurso de Lutero em seu julgamento na Dieta de Worms, ele reforçou uma mensagem para hoje: “A menos que eu seja condenado pela Escritura e pela clara razão, a minha consciência é cativa da Palavra de Deus”.

“Abraçar a liberdade religiosa é defender e integrar a dignidade dos seres humanos em nossas leis, cultura e modo de vida”, disse Kamal. “É adotar uma atitude pessoal de tolerância, em que a tolerância é uma expressão de solidariedade para todos os membros da família humana. Isso se traduz em respeito por cada ser humano, afinal, somos criados à imagem de Deus e isso só pode ser genuíno quando os direitos dos outros são respeitados”. 

No entanto, para Kamal, isso vai de mãos dadas com a missão. Antes de destacar alguns dos aspectos da missão da Igreja que ela conduz, ele enfatizou: “A maioria das pessoas sabe que Jesus veio para trazer perdão e graça—essas são características da

Reforma. Menos conhecido é o ensinamento bíblico de que uma verdadeira experiência da graça de Jesus Cristo inevitavelmente motiva pessoas, comunidades e nações a ver e aplicar a justiça e misericórdia bíblicas neste mundo “. [Leia o seu discurso completo aqui.]

Martinho Lutero poderia ter ficado surpreso se ele tivesse se encontrado sentado no prédio do parlamento. Dois oradores, ambos de origem católica, falaram muito do seu contributo para o desenvolvimento da Europa. Mairead McGuinnes, primeira vice-presidente do Parlamento Europeu, desenvolveu uma grande compreensão e tolerância para com aqueles que pensam de maneiras diferentes da forma como foi criada. “Mesmo minha mãe”, ela confessou, “pensava que podia conversar diretamente com Jesus e não precisava passar por um intermediário”. Ela reiterou o mesmo ponto que Kamal sublinhou: “A Igreja deve continuar se reformando”.  Embora o cristianismo não seja tão influente como costumava ser na Europa secular, enfatizou que a Igreja desempenha um papel importante em nossa sociedade. 

Talvez, não sendo surpresa no assento da legislação europeia, a palestrante final foi uma advogada, embora também teóloga. Katrin Hatzinger reconheceu os erros de Lutero no tratamento dos anabatistas e dos sabatarianos (entre outros), mas, através desses erros, ela viu a base do aprendizado para o diálogo atual. Vê a Igreja como uma “contrapartida crítica” no diálogo legislativo e um grande provedor de conhecimentos em,  por exemplo, áreas tais como o tratamento aos requerentes de asilo e refugiados. Numa nota de liberdade religiosa, ela declarou: “Queremos que as diferenças das Igrejas sejam reconhecidas pela UE”. Recapitulando o que se discutiu, Kamal levantou a reflexão de que “a Reforma contínua, a implicação para hoje, baseada na Palavra de Deus; eu vi isso hoje, nas apresentações que foram compartilhadas”. [TedNEWS]

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